setembro 25, 2012

joao rebocho pais /o intrínseco de manolo




Portugal, esta pequena aldeia em que se tomam as aparências pela realidade. A vida de cada vizinho, do outro, é sempre um exemplo do que está mal em contradição com aquilo que eu faço, não assumido e tanta vez escondido.

 Rouba-se , mente-se, preverte-se,mas  ninguém é pecador, a não ser o outro.  Cá eu nem pensar, os outros ,sim. 

  Arnaldo passa por ser um senhor,   Manolo por ser corno. Idalina assume a sua escolha  – "Era  porca e pronto. Que se lixasse que se fodesse, que fosse morrer longe a cambada que por  ali crescia como ervas daninhas, a chusma de amorfos feito gente, a manada de falsas puritanas."

Se algum de nós tivesse o poder do narrador, de espreitar verdadeiramente a realidade, seríamos mais capazes de interromper as deliciosas histórias de intriga que nos contam com um  não é bem assim, sabe-se lá se, e até de nos olharmos ao espelho da verdade.

Ninguém é tão magnificamente mau nem maravilhosamente bom. Há sempre um outro lado das coisas. Julgamentos precipitados divertem-nos, à mesa da tasca do Toino ou em assembleias bem frequentadas .

E se há uma moral nesta história, que se conta com toda a ironia e ternura e que amiúde nos é servida em pratos nojentos picados por varejeiras ou cheiro a esgoto de latrina mal-cheirosa, é que nada é o que parece. Todos temos um íntrinseco. E muito poucos lá chegam.

Um hiper-realismo mesclado de apelo melancólico à natureza, seja esta  a azinheira ou a paisagem humana. Num estilo muito apelativo pelas emoções e sensações que provocam no leitor, da nostalgia à repulsa, ao vómito, ao riso e ao sorriso, que remete para o surreal ou  mesmo a estéticas  a que alguns chamariam “da crueldade”. 

Fiquei fã.

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