Portugal, esta pequena aldeia em que se tomam as aparências pela realidade. A vida
de cada vizinho, do outro, é sempre um exemplo do que está mal em contradição
com aquilo que eu faço, não assumido
e tanta vez escondido.
Rouba-se , mente-se, preverte-se,mas
ninguém é pecador, a não ser o outro. Cá eu nem pensar, os outros ,sim.
Arnaldo passa por ser um senhor, Manolo por ser corno. Idalina assume
a sua escolha – "Era porca e pronto. Que se lixasse que se fodesse,
que fosse morrer longe a cambada que por ali crescia como ervas daninhas, a chusma de
amorfos feito gente, a manada de falsas puritanas."
Se
algum de nós tivesse o poder do narrador, de espreitar verdadeiramente a
realidade, seríamos mais capazes de interromper as deliciosas histórias de
intriga que nos contam com um não é bem assim, sabe-se lá se, e até de nos olharmos ao espelho da verdade.
Ninguém
é tão magnificamente mau nem maravilhosamente bom. Há sempre um outro lado das coisas. Julgamentos precipitados divertem-nos, à mesa da tasca do Toino ou em
assembleias bem frequentadas .
E se
há uma moral nesta história, que se conta com toda a ironia e ternura e que
amiúde nos é servida em pratos nojentos picados por varejeiras ou cheiro a esgoto de latrina mal-cheirosa, é que nada é o que parece. Todos temos um íntrinseco. E muito
poucos lá chegam.
Um
hiper-realismo mesclado de apelo melancólico à natureza, seja esta a azinheira ou a paisagem humana. Num estilo muito apelativo pelas emoções e sensações
que provocam no leitor, da nostalgia à repulsa, ao vómito, ao riso e ao sorriso,
que remete para o surreal ou mesmo a estéticas
a que alguns chamariam “da crueldade”.
Fiquei
fã.
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