Era uma vez
uma menina que só tinha duas histórias para ler – o sapo e a princesa e hansel
e gretel – a menina lia e relia os livros que cabiam na palma da sua mão.
Lia para ela, para os irmãos, para os amigos, de cada vez descobrindo uma nova
entoação demonstrativa do desgosto do sapo e do amor da princesa que acreditou
no impossível, a bondade num sapo. Em hansel
e gretel seduziam -na os caminhos difíceis, o truque das pedrinhas e o
risco de se perder qualquer menina.
Na
contracapa de cada pequena história, lá estava a lista de outras histórias que
ela gostaria de ler, mesmo por baixo do símbolo de uma joaninha. joaninha –avoa
– avoa que o teu pai está em Lisboa.
Esperou, esperou,
que se lembrassem de lhe trazer mais histórias, tinha sido ensinada a não pedir
nada. Se me perguntassem era esta que eu escolhia – as três maçãzinhas de ouro
– mas ninguém perguntou.
Uma manhã, dessas manhãs tipo férias da Páscoa, em que
a monotonia invadia todas as salas e quartos, sem se poder brincar na rua,
costurar, muito menos jogar, para não pecar, pôs-se a matutar sobre o assunto.
E se bem pensou, melhor o fez – pegou num lápis muito bem afiado e escreveu, escreveu,
com aquela caligrafia difícil que só ela entendia.
Chamou os irmãos e disse –
Já temos mais uma história, as três
maçãzinhas de oiro – Onde é que arranjaste?
Como não
tinha, inventei.
Nem sei o que
é que isto tem que ver com a entrevista que encontrei em o bibliotecário de babel, as palavras de Truman Capote lembradas por Juan Marsé.
O escritor, quando nasce, recebe de Deus uma
flor, mas também um chicote. A literatura é trabalho, é esforço. E o leitor não
tem de se aperceber desse esforço. Escrever é como fazer uma cadeira. Quem
compra a cadeira não tem de saber o que sofreu, ao fazê-la, o homem que
construiu a cadeira.
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