agosto 24, 2011

os famosos fin de siècle





Naquela época não se falava em homens bonitos, muito menos os designávamos   um pão e ainda não tínhamos chegado ao descaramento dos anos 50/60 em que os classificávamos de  grande corrente de ar.  O Adamo ou o Chico  Buarque eram tão borrachos quanto o Mick Jagger, só mais tarde atingiram o horroroso estatuto de grosso, exemplares   como  Johny Depp ou  Mourinho.

Mas que já nos finais do secXIX  se mediam as nossas vidas  pelas dos famosos, quase posso garantir que é verdade. Das mulheres bonitas se  ouvia dizer, “era ela, e a rainha dona Amélia”.  Quanto aos homens, o máximo permitido pelos brandos costumes era ser-se tido como um homem interessante. Lembro-me de ouvir dizer isso de alguém, alto e de perfil grego. Coitado do Bá, que até era monárquico, cheio de apelidos de aqui e de ali, o que provavelmente contribuía para a opinião favorável que tinham dele as senhoras da época, que o viam como um homem muito interessante ,no género do dr. Salazar...

 Amélia de Orleães    




Na altura não eram ainda os cartões de crédito que definiam a classe de uma pessoa. Um homem interessante era pois um homem alto, seco, a cheirar a lavanda, ainda que o cabelo curto, penteado para trás e brilhante fosse já grisalho. Usava calças vincadas , fato e gravata ; em ocasiões mais desportivas andava de alpergatas, como quando se deslocava até à praia de Paço de Arcos em passeios à beira rio que desembocavam no velho Casino, cujo edifício ainda lá está, com o seu grande salão dourado.

  Um homem interessante  não  se permitia ser gordo, ou desenvolver barrigas de cerveja com a desculpa de estar muito ao computador. Um homem interessante continha em si algum mistério, já que tinha o hábito de dar lugar aos outros, não apenas às senhoras. Um homem interessante era uma pessoa que tinha em si, a constante preocupação de não ultrapassar ninguém, não falar em cima de ninguém. Muitas vezes se pensava dele – o que é que pensará fulano? Não era um macambúzio, um estou- aqui- e- os outros- que- se- lixem; mesmo  calado, a sua expressão corporal dizia tudo, até se ria com os olhos. Não teria necessariamente os peitorais de um Ronaldo, mas tinha a grande vantagem de jamais cuspir para o chão.


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