setembro 02, 2011

os pendurados


  As notícias deprimem-nos. Há quem se refugie na literatura. Entre musil e  clarice lispector hei-de encontrar algum consolo. E até nas histórias que eu própria invento. 

Aqui na aldeia pendurou-se mais um. Tocam os sinos a rebate e a conversa na padaria, bem cedinho, gira à volta de quem morreu. Não , não foi nenhum destes idosos trabalhadores-ou -trabalhadoras- até- morrer. Um homem de trinta anos. Um desgosto de amor, dívidas, a crise, ou as crises.
Pendurou-se no forro da casa que andava a pintar. Dois filhos pequenos, ela não o queria.

Aqui, já o tio dele, ali ,naquela oliveira um, na azinheira maior, o outro. 

E perguntam-me porque é que nas minhas histórias há quase sempre morte, a mim , que ando há tempos envolvida numa narrativa em que procuro “ a gota de água” - o exacto momento em que se escolhe  desistir. Então eu respondo com outra pergunta, mas conheces alguma história aonde não se morra? Trata-se apenas disto – nascer e morrer. Não existe mais nada para além disto. Antes ou depois da história acabar, morre-se sempre.
Continuo na companhia de O homem sem qualidades, provavelmente,  mais um amor para a vida – da página 166 recolho para vós, estas palavras –“… temos de reconhecer que uma pessoa que pense, ainda que pouco, se arrisca a cair naquilo a que se pode chamar uma companhia muito caótica” . Prometo progredir no caos até à vitória final (impossível será fazer uma síntese desta densidade de caminhos que nos explicam o homem moderno ou pós –moderno, que sei eu?) , encantada, já cheguei à pag. 470. Ajudada pela tradução, prefácio e notas. Obrigada, professor João Barrento!

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