maio 13, 2011

a raça médicos poetas


 É do Miguel Esteves Cardoso a frase que involuntariamente me veio à cabeça.

 Não é que vou aqui fazer um examezinho de rotina, a uma clínica perto de mim pertencente ao grupo BES, e me apresentam um inquérito sobre o meu estado de saúde, antecedentes familiares de cancro de diversos tipos – procedimentos normais, imagino, estatísticas para a prevenção, a minha própria e a de outras pessoas.
Entrego a dita ficha informativa e sou chamada logo de seguida pela solícita recepcionista – a senhora esqueceu-se aqui desta parte. Nada de anormal, sem a minha falta de atenção não era eu. Nome, idade, tinham ficado para trás. Qual não é o meu espanto quando na última linha da “identificação pessoal” só tenho duas hipóteses: Caucasiana ou Negra, para preencher o item da raça, pois claro. Nunca mais tinha visto uma ficha assim, desde o tempo do fascismo. Digo em voz alta. É que me passei para aquela manhã de 1970 nos serviços médicos universitários em frente a um papel azul esverdeado. Reflexo condicionado. A rapariguinha da Clínica do Parque dos Poetas está-se completamente nas tintas para o meu reflexo, sabe lá ela o que era o fascismo. Isto deve ter alguma razão médica, para avaliarem se há mais cancro nas pretas que nas brancas. O benefício da dúvida. Cala-te, não faças escândalo. A minha raça? Nem consta. Devia ter escrito humana, dizem-me depois. Serei eu arraçada? Putas das mamas – é esta a frase de O Público.

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