maio 23, 2010

A PALAVRA EFÉMERO.

Quando apareceu a televisão falaram-nos de uma janela para o mundo. A rádio era, e é, “uma companhia”.

E isto de internetes, blogosferas, facebooks? Por um lado consideradas efémeras, por outro, vistas por “especialistas “ como "o que não se desvanece".Dizem-nos eles que tudo vai ficar escrito no vento, neste caso no éter, nas nuvens. Os subterrâneos do nosso inconsciente frequentam agora “cabos”e “fibras ” e o que manifestamos permanece, “para sempre”. Vasco Trigo, o que vê televisão à hora da refeição sem complexos, integra isso no dia-a-dia familiar; é com certeza um homem moderno, além de um expert na área da tecnologia da informação, avisa-nos ele – Cuidado, o que se põe na Net nunca desaparece, se responderes a um anúncio de emprego, a primeira coisa que fazem é investigar no Google, quem, onde, quando, tudo sobre ti. Fotografias, sites que frequentas ou redes sociais.
Portanto, pelo que nos dizem os peritos, o que parece volátil está e estará. Não em filmes guardados em caixas de metal cinzento, não em cassetes video de plástico preto, não em Cds, mas lá por cima, perto do céu e do São Pedro que é quem nos abrirá um dia as suas portas, OU NÃO!
OS NOSSOS IDS, EGOS E SUPER EGOS GRAVADOS NO CÉU? Como é que certas pessoas conseguirão dormir à noite descansadas, com alguma porta mal fechada, alguma janela inadvertidamente entreaberta no seu quarto de dormir? Teremos provavelmente que inventar um gestor de mundos e de imagem virtual, um Segismundo Freud tratador da nossa alma assombrada deambulando pelo espaço, um contentor de pulsões inconfessáveis, um interpretador oficial do nosso atraso de personalidade, um técnico informático que, qual terapeuta familiar, irá apagando as sucessivas merdas que não conseguirmos enterrar sózinhos.
Portanto, ao contrário do que li esta manhã num blog , ia a dizer, da concorrência, mas não digo, a efemeridade morreu.

Já não me pesa tanto o vir da morte,
Sei já que é nada, que é ficção e sonho,
E que, na roda universal da Sorte,
Não sou aquilo que me aqui suponho.

Sei que há mais mundos que este pouco mundo
Onde parece a nós haver morrer –
Dura terra e fragosa, que há no fundo
Do oceano imenso de viver.

Sei que a morte, que é tudo, não é nada,
E que, de morte em morte, a alma que há
Não cai num poço: vai por uma estrada.
Em Sua hora e a nossa, Deus dirá.

Fernando Pessoa, 6 de Julho de 1934

Não resisti pois a deixar aqui um dos poemas da minha vida.

Veja mais em http://duvida-metodica.blogspot.com/

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