janeiro 10, 2015

de como o terror do oriente afecta as relações no ocidente

 À minha amiga Rita, Rita de Cássia – um nome lindo, pois é – não lhe estava nada a calhar esta história da guerra ou da guerrilha. Já tinha passado por muitas lutas, por demasiadas partidas, queria sopas e descanso, diz ela. Esta Rita está numa relação, com toda a impermanência que estar numa relação significa e que leva alguns a permanecer, ou seja a amar eternamente enquanto dura. 

Os Levantinos não a assustam, mas enoja-a pensar na história do petróleo, dos campos de refugiados, das crianças da fome em fuga pelos desertos, a viver em terras áridas cheias de doença e infecção.

Quando a Rita ouviu falar dos ataques a Paris, de infantários fechados e evacuados, meteu-se no cabeleireiro. Aquilo parecia uma feira –  o Canal do costume, das músicas manhosas ou românticas, tinha sido substituído pela informação em directo do que se passava em Dammartin , cabeleiras suspensas dos acontecimentos – como se de um jogo de futebol ou de uma telenovela se tratasse. 

Para não pensar fugiu para o centro comercial, o útero de todos os dias, ou todas as obrigações. Tratou de lá se encontrar com o amante, como a Rita costuma dizer.

E a história da guerrilha, do assalto, presente em todos os écrans. Por sorte o marido abraçou-a muito quando chegou, riram e um pouco de sol brilhou ali dentro a las cinco de la tarde

 – Quando o Sol brilha, não esperas a tempestade, diz-me ela.

Mas uma pequena nuvem pode ser o seu prenúncio. Já sei, as mulheres são de Vénus e os homens de Marte, às vezes basta um olhar, uma curta  frase para dar cabo do ambiente- e se as expectativas são altas, pior ainda. 
Discute-se por dá cá aquela palha, neste caso, por um pastel de nata. Mas para quem se ama muito, é a mesma coisa. Um pastel de nata, ou uma kalashnikov. E fica-se muito doente. 

Foi assim que encontrei a Rita,num naufrágio de desgosto.

Sem comentários:

Enviar um comentário