dezembro 16, 2014

A arte de viver a viver da arte ou ser ou não ser arquitecto. Maria do Ó conversa com Cruzeiro Seixas


Da Segunda Natureza

Aposto ou continuado, o substantivo que se apõe a um nome com o fim de alargar os limites do que se define, era assim na escola primária. 


   O nome , no fim de contas, não define nada. Não passa de um sinal, uma oferta de paz a quem nos estende a mão ou nos abraça,  –   Esta tem nome – pensam .  Por alguma razão a primeira coisa que a polícia nos pede é o nome – Identifique-se. Já deus, nem por isso. Que eu saiba o padre na confissão não pede o nome de ninguém, embora às vezes possa fazer outros pedidos menos curiais.
 
 Marketing, regras de marketing, não das gramáticas nem dos sentidos,explicam os mais avisados. Pois creio que devíamos reconsiderar a velha questão da função da arte, da arte pela arte. Pintas o que te dá na gana ou usas as cores do sistema?


Muita arte fica presa nessa sopa dos pobres do poder… Mas não passa de uma questão de escolha, entre ir à sopa dos pobres, ou não. Pedir batatinhas a Passos… Perdidos, ou não. Se tiveres uma posição sem muitas ondas, ainda te safas, que ele há poderes inteligentes, mesmo os que não prestam, olha o António Ferro. Se não resistires a entrar pela tempestade adentro, tu é que sabes, mas digo-to eu que conheço a vida, vais andar aí às voltas de «mala de cartão»  a tentar vender o que produzes, vais aguentar os olhares  de nojo, olha o indigente, cá anda este, a fazer edições de autor em vez de alimentar a família, a gastar em tintas, em vez de  pôr comida no prato dos filhos.


 Proponho uma daquelas performances que gosto de imaginar, eu ia de ceguinha, em frente à Assírio, hoje até dava jeito, o problema é que eles não gostam que se estacione à porta, eu de ceguinha, cabeleira farta toda branca e folhetos de cordel cheios de poemas, a tiracolo, pra vender, claro. Você levava a viola e cantava o fado do dilema -  a arte de viver a viver da arte ou ser arquitecto.


Apesar disto tudo, caro amigo, pense duas vezes antes de me apresentar como «escritora», não é por mal, eu sei, mas já reparou quanto isso pouco acrescenta?


Recebido por mail ,  Maria do Ó, escritora

Sem comentários:

Enviar um comentário