dezembro 19, 2013

Era uma vez...



Muito antes de aprendermos a ler já gostamos que nos contem histórias. Os avós, as mães, os pais e os tios. O mundo fantástico da imaginação, dos ritmos das lengalengas que, ainda mal sabemos falar, vamos macaqueando. Os sons amplificados ou segredados para diversas emoções, – onde vais minha filhinha, pergunta o lobo mau, quem não se lembra do arrepio, de tapar os olhos ao escutar as cenas mais medonhas; de navalha fiz farinha, contava o macaco do rabo cortado, o medo, o riso, a ternura, a inveja e o ciúme, tudo nos é revelado nessas estórias herdadas de bisavós, para avós e netos, tornados por sua vez os contadores dos mesmos ritmos na actualidade. 
Espero que sim, que não sejam apenas as instituições e grupos de contadores de histórias a passar estas mensagens longínquas que parecem fora do tempo, mas tenho dúvidas. A família tem percorrido diversos caminhos, não se junta à volta da lareira. Muitas crianças, infelizmente, são habituadas a estar permanentemente ligadas, primeiro à televisão, logo a seguir à net. E absorvem como esponjas histórias bem diferentes das de “o macaco do rabo cortado”; aos dez anos já vêm telenovelas de estética duvidosa, valores que muito deixam a desejar. 
Há dias falei com uma criatura que já escolheu a profissão – ser famosa. Aos dez anos não sabe ler, apenas papagueia, junta letras mas não lhes atribui significado. Não, não comecemos com o velho discurso, no meu tempo não era assim, nesta idade líamos os clássicos, Júlio Dinis, Garrett de capa amarela. Nem com o dos pobrezinhos, que esta miúda convive com gente culta, ou pelo menos de instrução acima da média.

Raramente aqui se falou de livros para os mais novos. Pois este é apetecível para pôr no sapatinho.



Uma coisa é certa – contar uma história é sempre um acto de amor, tem de ser.

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