abril 06, 2013

talking to me ,pessoa?

 

Are you talking to me? A esta frase estará sempre associada a entoação de Robert  de Niro e aquele modo de colocar a voz, de certos homens abrutalhados que falam com a boca cheia de favas. Se o crítico de O Público tivesse seguido as regras do velho professor Flor, ela não teria sido traduzida, apareceria em pé de página com  a sua explicitação .

No início do século passado   as mulheres tocavam piano e falavam francês, as senhoras faziam démarches e as criadas perguntavam aos convidados – uma chávena de chá por consequência?  Histórias destas percorrem gerações ;elas ilustram sobretudo o conceito a passar aos mais novos –  vale mais não  utilizar palavras que não se dominem , caímos no ridículo. 

A realidade é que muitas palavras foram saindo do armário dos patrões e foram sendo utilizadas em contextos duvidosos, mas saíram e andam por aí. É a história da língua.
Durante o período em que a palavra anda à solta, de grupo em grupo, saltita de gente que leu em latim para pessoas que nem para ler em português tiveram tempo, descobrimos frases de morrer a rir. Porque a palavra requer um contexto e dele faz parte quem fala, o género e a classe social do sujeito. Ora este caminho que as palavras percorrem para invadir o discurso do comum dos mortais, a que se irá chamar norma ,  está povoado de ironia, de cómico, é ele a essência do riso.

A imaginação do falante português parece não ter limites , descubro expressões lindíssimas e só me apetece é andar de gravador atrás. Porque será que a idéia de tempo é das mais corruptoras? Será o desejo de definir o indefinível, a passagem e o ritmo do tempo – uma chávena de chá depois de uma primeira, mas que não é consequência de nada, à priódica, a contaminação da expressão  latina.


À língua inglesa, essa quase obrigação que se nos cola à pele, ando a tentar esquecê-la. Em momentos  de dor , de prazer e de raiva ainda surge o desabafo,  what the hell, para não dizer what the fuck. My baby girl, love you so much, e outras palermices.

 A nossa língua é realmente a língua da claridade, como  diz Pessoa e a nossa pátria essa língua ,ou seja , o lugar onde nos sentimos bem, a nossa praia, diríamos .

 Mas hoje a nossa pátria é o mundo.
E quando eu quiser dizer ao mundo de que é feita esta gente, que transforma a desgraça em arte, posso sempre voltar a outra língua, para que mais gente o saiba. Leiam e encham-se de orgulho. No new york times sobre portugal.


P.S.- Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta frase é inteiramente absurda. Mas neste momento sinto que as frases absurdas dão uma grande vontade de chorar.
In,Carta de Fernando  Pessoa a Mário de Sá Carneiro, 14 de Março, 1916





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