Are you
talking to me? A esta
frase estará sempre associada a entoação de Robert de Niro e aquele modo de colocar a voz, de
certos homens abrutalhados que falam com a boca cheia de favas. Se o crítico de
O Público tivesse seguido as regras do velho professor Flor, ela não teria sido
traduzida, apareceria em pé de página com
a sua explicitação .
No início
do século passado as mulheres tocavam
piano e falavam francês, as senhoras faziam démarches
e as criadas perguntavam aos
convidados – uma chávena de chá por
consequência? Histórias
destas percorrem gerações ;elas ilustram sobretudo o conceito a passar aos mais novos – vale mais não utilizar palavras que não se dominem , caímos no
ridículo.
A realidade é que muitas palavras foram saindo do armário dos patrões
e foram sendo utilizadas em contextos duvidosos, mas saíram e andam por aí. É a
história da língua.
Durante o
período em que a palavra anda à solta, de grupo em grupo, saltita de gente que
leu em latim para pessoas que nem para ler em português tiveram tempo,
descobrimos frases de morrer a rir. Porque a palavra requer um contexto e dele
faz parte quem fala, o género e a classe social do sujeito. Ora este caminho
que as palavras percorrem para invadir o discurso do comum dos mortais, a que
se irá chamar norma , está povoado de ironia, de cómico, é ele
a essência do riso.
A imaginação
do falante português parece não ter limites , descubro expressões lindíssimas e
só me apetece é andar de gravador atrás. Porque será que a idéia de tempo é das
mais corruptoras? Será o desejo de definir o indefinível, a passagem e o ritmo
do tempo – uma chávena de chá depois de uma primeira, mas que não é consequência de nada, à priódica, a contaminação da expressão latina.
À língua
inglesa, essa quase obrigação que se nos cola à pele, ando a tentar
esquecê-la. Em momentos de dor , de prazer e de raiva ainda surge o
desabafo, what the hell, para
não dizer what the fuck. My baby girl, love you so much, e outras palermices.
A nossa língua é realmente a língua da claridade, como diz Pessoa e a nossa pátria essa língua ,ou
seja , o lugar onde nos sentimos bem, a nossa praia, diríamos .
Mas hoje a nossa pátria é o mundo.
Mas hoje a nossa pátria é o mundo.
E quando eu
quiser dizer ao mundo de que é feita esta gente, que transforma a desgraça em
arte, posso sempre voltar a outra língua, para que mais gente o saiba. Leiam e
encham-se de orgulho. No new york times sobre portugal.
P.S.- Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta frase é inteiramente absurda. Mas neste
momento sinto que as frases absurdas dão uma grande vontade de chorar.
In,Carta de
Fernando Pessoa a Mário de Sá Carneiro,
14 de Março, 1916
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