janeiro 08, 2013

mo yan




Mo Yan significa “não fales ”, pseudónimo escolhido por ter sido aconselhado na infância a não exprimir as suas opiniões em público.

 As minhas memórias carregam o meu “eu” daquela época, um rapaz solitário que foi expulso da escola mas que se sentiu atraído pelo alarido que chegava do recreio.
Mudanças - Ampliar Imagem


E é o rapaz daquela época que começa por nos contar as Mudanças determinantes  da sua vida na  República Popular da China durante a Revolução Cultural. Mais adulto relata  o reencontro com  He Zhiwu com quem partilha a paixão pelo Gaz 51 , um velho camião soviético , e pela colega de escola  Lu Wenli. 

  
Há tanta coisa que gostaria de te contar, coisas que vão espicaçar-te a imaginação e ajudar-te a escrever um romance dos diabos, promete He Zhiwu.
O tal romance dos diabos,considerado autobiográfico (não gosto desta classificação, um dia talvez explique porquê) é frequentado por personagens - Lu Wenli,  Bocarra Liu, o pai de Lu Wenli e o Gaz 51 ( que lá por  ser fantástico não deixa de ter direito à vida). Seres que se   movem numa trama de admirações e desejos. De entre eles  elegeria o Gaz 51 como a personagem principal.

 Nunca tinha lido nada que me tivesse feito sentir o que quer que fosse por um camião. Nunca imaginei escolher acreditar que o Gaz 51 pudesse ter sentimentos e vontades. Contudo Mo Yan neste registo meigo, de pinceladas de um grotesco infantil,  hiper simples,  tem o condão de nos pôr a seu lado. 

Terá esta aparente simplicidade -  que muito poucos conseguem  e que alberga em si  toda a densidade das nada simples,antes pelo contrário , das  profundíssimas  verdades da vida - sido relevante para a atribuição do Nobel?

E o que é que um miúdo chinês nascido nos anos cinquenta tem a ver connosco? Interrogamo-nos.  Tudo.  E continuamos  a sorrir depois da última página.

Graças à Divina Comédia, ed. e à querida Su que me ofereceu estes sorrisos no natal.




   

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