junho 23, 2012

stanislavski, a construção da personagem



Constantin Stanislavski,leitura obrigatória na Escola de Teatro :  “ quando  um actor representa, está dividido em duas partes ."

Lembrem-se das palavras de Salvini, cita ele.

“Um actor vive, chora , ri em cima do palco, mas ao chorar ou rir ele observa as suas próprias lágrimas e a sua própria alegria.
 Esta dupla existência, este equilíbrio entre a vida e a interpretação dramática é que forjam a própria arte.”

E , na minha opinião, todas as artes.

 Muitas vezes se atribui ao artista a qualidade de desequilibrado .  Terá até havido quem tenha ido parar à fogueira da inquisição ou a manicómios mais recentes, curar a alma doente. 

Van Gogh , Pollock, Paula Rego, Virgínia Woolf, tantos poetas, tantos outros .  Em cima de um palco, dos diversos palcos, a pintalgar o chão e as paredes, a recolher materiais do lixo que sirvam a sua forma de expressão, ou a misturar palavras e  sons  a seu belo prazer, são apanhados por olhos que dizem – Vai-te curar.

Só que encontrar os outros eus que habitam em nós não é fácil. É por vezes tão doloroso que dá para emagrecer, para engordar, pior ainda, não conseguir sair de lá, dele do outro, o nosso duplo.

Em a construção da personagem ,  Stanislavski explica:

 “Apreensivo e enervado, levei comigo a questão: como deveria ser a personagem que eu queria assumir logo que envergasse aquele roupão coçado?” ( pg 16).

A partir daí , o actor não é  mais ele mesmo, “não estava sozinho no interior dele mesmo”.

“Finalmente à noite, despertei bruscamente e tudo ficou claro. Aquela segunda vida que transportava paralelamente à minha, era uma vida secreta, subconsciente. Desenrolava-se no quadro dessa tal vida o trabalho de pesquisa que conduziria àquele homem estranho do qual já encontrara o vestuário.” ( pg 17).

  Apesar das dificuldades, dos nervos, da confusão espiritual , são poucos aqueles que , depois de percorrido o caminho para o acto criativo, desejem voltar atrás.  E, ao que parece, Constantin  concorda.

“ Sentia-me francamente feliz. Mas esta sensação não era comparável a nenhuma outra, resultante de uma vulgar satisfação. Era uma alegria que provinha directamente do êxito de um esforço de criação, de uma realização artística.” (pg.25).

E muito mais haveria a dizer sobre este senhor, de quem me lembro muita vez, o tal Stanislavski. Mas ontem  matei saudades, quando ao assistir ao espectáculo  da Ângela, no Trindade, bem vi quanto ela tinha aprendido a lição. E recordei os tempos da Escola. O mesmo caminho que temos percorrido para lugares diferentes ,  "francamente felizes”.

E eu que só queria dizer que gostei, que este espectáculo devia ser visto pelo país  fora, com as estatísticas da violência doméstica em cartaz ,que passem por lá, a ver Coisas de Homem. Que estes dois actores , Ângela  Pinto e Helder Gamboa fizeram francamente bem o trabalho de casa , ajudados pela equipa e pela  encenadora, Maria Emília Correia.

 por maria joão carrilho

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