Constantin Stanislavski,leitura obrigatória na Escola de Teatro : “ quando um actor representa, está
dividido em duas partes ."
Lembrem-se das palavras de Salvini, cita ele.
Lembrem-se das palavras de Salvini, cita ele.
“Um
actor vive, chora , ri em cima do palco, mas ao chorar ou rir ele observa as
suas próprias lágrimas e a sua própria alegria.
Esta
dupla existência, este equilíbrio entre a vida e a interpretação dramática é
que forjam a própria arte.”
E , na
minha opinião, todas as artes.
Muitas vezes se atribui ao artista a
qualidade de desequilibrado . Terá até havido quem tenha ido parar à
fogueira da inquisição ou a manicómios mais recentes, curar a alma doente.
Van Gogh , Pollock, Paula Rego, Virgínia Woolf, tantos poetas, tantos outros . Em cima
de um palco, dos diversos palcos, a pintalgar o chão e as paredes, a
recolher materiais do lixo que sirvam a sua forma de expressão, ou a misturar palavras
e sons a seu belo prazer, são apanhados por olhos que
dizem – Vai-te curar.
Só
que encontrar os outros eus que
habitam em nós não é fácil. É por vezes tão doloroso que dá para emagrecer,
para engordar, pior ainda, não conseguir sair de lá, dele do outro, o nosso
duplo.
Em a
construção da personagem , Stanislavski explica:
“Apreensivo e enervado, levei comigo a
questão: como deveria ser a personagem que eu queria assumir logo que
envergasse aquele roupão coçado?” ( pg 16).
A partir
daí , o actor não é mais ele mesmo, “não estava sozinho no interior dele mesmo”.
“Finalmente
à noite, despertei bruscamente e tudo ficou claro. Aquela segunda vida que
transportava paralelamente à minha, era uma vida secreta, subconsciente.
Desenrolava-se no quadro dessa tal vida o trabalho de pesquisa que conduziria
àquele homem estranho do qual já encontrara o vestuário.” ( pg 17).
Apesar
das dificuldades, dos nervos, da confusão espiritual , são poucos aqueles que ,
depois de percorrido o caminho para o acto criativo, desejem voltar atrás. E, ao que parece, Constantin concorda.
“
Sentia-me francamente feliz. Mas esta sensação não era comparável a nenhuma
outra, resultante de uma vulgar satisfação. Era uma alegria que provinha
directamente do êxito de um esforço de criação, de uma realização artística.”
(pg.25).
E
muito mais haveria a dizer sobre este senhor, de quem me lembro muita vez, o
tal Stanislavski. Mas ontem matei saudades, quando ao assistir ao espectáculo da Ângela, no Trindade, bem vi quanto ela tinha aprendido a
lição. E recordei os tempos da Escola. O mesmo caminho que temos
percorrido para lugares diferentes , "francamente felizes”.
E eu
que só queria dizer que gostei, que este espectáculo devia ser visto pelo país fora, com as estatísticas da violência
doméstica em cartaz ,que passem por lá, a ver Coisas de Homem. Que estes dois
actores , Ângela Pinto e Helder Gamboa
fizeram francamente bem o trabalho de casa , ajudados pela equipa e pela encenadora, Maria Emília Correia.
por maria joão carrilho
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