maio 04, 2011

da ilha dos escravos


A mestiçagem, o estar entre o negro e o branco. A natural nudez.

O caldo húmido, viscoso da Ilha, o verde na luz e nas sombras naquilo a que a autora chama selva. Para mim a selva seria maior, como a outra África que conheci, Moçambique, uma manhã para chegar ao Xai-Xai, levantar de noite para ir a uma quinta ali ao lado. 

Em S. Tomé tudo era perto, uma pequena ilha. As roças aonde só se chegava de jipe e nos íamos abastecer de legumes, o Zé Manel a distribuir cigarros pelos santomenses, o que eu achava degradante.

Mas a leitura deste romance histórico não suscita apenas recordações nostálgicas de quem por África  passou um pedaço da juventude e sentiu o corpo extenso , denso na paisagem,os estados de alma fluindo nas limpas águas das ribeiras, no entornar da cascata, de quem se espera um estralhaçar ensurdecedor e acaba num contido murmúrio de águas. Que fale mais devagar, não vá o menino acordar. Cabem aqui todas as lembranças, para que não se apague da memória – o fim da tarde à beira mar, o perfil elástico dos pescadores,vozes quentes no crepúsculo africano; as mulheres jovens na amurada da praia, o Pantufo, numa meditação profunda, talvez rezando sem o saber, silêncios respeitáveis, a consonância.

Não é possível confundir um texto com o que lá está.Só. É pelos meus olhos que lá vou. E irei hoje por um caminho diferente do de amanhã ou de há anos atrás. Não sei se lhe deva pedir licença, mas o texto que você produziu, agora é meu, não nos livramos disso. Como se eu bebesse a tal água da cascata, ela passasse suave pela minha garganta, me arrefecesse o estômago e se diluísse nos meus fluidos.

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