setembro 02, 2010

No país dos estádios de futebol

Se alguma coisa me ficou deste interregno sazonal a que se convenciona chamar silly season, foi a pseudo polémica que envolveu os nomes de Lobo Antunes e Saramago. Não se trata de avaliar possíveis estratégias editoriais que trazem a lume frases descontextualizadas que pretendem vender. Não me impressionou por aí além a desculpa de uma entrevista ser uma metáfora e até me vi a imaginar se será a vida uma metáfora assinada por deus.

O que marcou a minha castigada memória foi a repetida assunção de que Saramago, sim, era o Nobel merecido , ao contrário de Lobo Antunes.

Mas será a literatura um estádio de futebol aonde apenas um dos clubes em presença tem direito à taça? Pois voto que não. Pelo menos na arte consintam a poligamia . Se ambas as escritas embalam o meu sonho, se em qualquer delas reconheço a espécie de música que a minha alma dança, o ritmo, a entoação , o respirar que me engana por eu querer, por que não aceitar que, quer Saramago quer Lobo Antunes, mereçam todos os prémios?

Postava agora aqui uma fotografia dessa melodia, se para tal o engenho me não faltasse.

Mas convosco a frase de Virginia Woolf escolhida por James Wood ( A Mecânica da Ficção, James Wood, cap.101) para explicar essa “música”:

O dia ondula amarelo com todas as suas colheitas. "Esta frase deixa-me estarrecido",diz Wood, "...em parte porque não consigo explicar porque é que me afecta tanto. Consigo ver, e ouvir, a sua beleza, a sua estranheza. A sua música é simples.(...)".

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