A linha ténue entre o sonho e a realidade. Menos nítida para alguns. Menos sonho para outros.
Em qualquer dos lados o sofrimento. Por isso não entendo por que chamam a isto de sonhar, a fuga; a fuga da realidade, quando me parece ser precisa ainda mais coragem para frequentar o lado de lá. Existiria um sem o outro?
Os que adoram levar-nos para o divã, nos classificam os actos, as reacções ou o que conseguem vislumbrar de nós, aqueles que encantamos, falam-nos da fuga, da violência do que escrevemos, pintamos, compomos. Contudo amam essa mesma violência que nos excede transbordante e que não conseguimos conter nos limites do civilizado. Esse excesso não é nem mais nem menos do que o espelho aonde aqueles que não aceitam a sua própria violência não gostam de se encontrar. O medo de sair do rebanho, de ser proscrito, de ter comportamentos”desviantes”, pecados, sobrepõe-se a todo e qualquer voo da imaginação e desde tenra idade é reprimido, constituído em tabú. Só aos muito bons e um pouco loucos é permitido saltar a cerca, frequentar o outro lado. O do sofrimento consentido, aceite como a purificação, o expurgar da ferida infectada.
Eu tinha umas asas brancas, partia voava ao céu. Voar ao céu, fingir ter a dor que deveras sente, subir ao palco, descobrir e pôr a descoberto as identidades que há em nós, tudo partos difíceis, de dores do nascer ao pôr-do-sol.
Sempre que desaparece um poeta...eu fico mais pobre...o Mundo fica pior!
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