agosto 09, 2015

solitário voto de castidade



Um texto de Miguel Real no JL (Os dias da Prosa). É sobre experimentalismo literário e Mário Cláudio,  o autor que se segue na fila de espera cá de casa, desta feita, «Retrato de Rapaz».
Os livros que a gente gosta, penso. Agente é da polícia, interpelação crítica que acompanhava um desvio do olhar, um certo desprezo por quem a utilizava, um crime que nem pensar em cometer.  
Mais tarde estudámos a norma, depois de já termos aprendido, na primária, as regras que se impunham. Vírgula, nunca depois da conjunção «e». Aposto ou continuado, entre vírgulas. Nunca utilizar a vírgula entre sujeito e predicado. E a isso éramos obrigados.

 Tive uma professora de desenho que gostaria de ver normalizada a forma como usávamos as cores. Anos depois, lembro-me de uma criança da família que na primária decidiu pintar uma fruta de determinada cor ou não-cor. – Uma pera? Preta? A criança ficou para sempre marcada – As peras tinham que ser verdes? E as pessoas pretas poderiam ser verdes? Perguntava-se ele. Que, à educadora, nem pensar- magíster dixit.

Aceito que se deva aprender a norma. Mas sobretudo, o que interessa –  no domínio a que poderemos (ou não) chamar “arte” – é a capacidade de transgredir, o que muitíssimas vezes eleva o quociente de aproximação ao objecto artístico . Entre os receptores haverá quem o aprecie, ou não. Quem o entenda, ou não. Quem se deleite com cores e formas inimagináveis, ou não. Quem queira continuar a ler, ou não. 
 Prefiro pensar que o ritmo de cada alma tem de ficar impresso na pedra, sejam vírgulas respiratórias, pausadas ou em corrupio, sejam homens marcados a fogo nas velhíssimas cavernas. Não acredito que a arte se conquiste aliada ao pre - conceito (sim, com hífen) - agora decido inovar. É claro que se eu encontrar neste hífen um significado que me transporte para perto de si, leitor, vou usá-lo sempre que essa necessidade se imponha. Terá sido isto que Miguel Real considera ter Mário Cláudio usado «com intenção»? Experimentalismo literário? 

- Há que descobrir novos caminhos, proibidos ou não. 
 
Quanto a  «estilo inovador», logo se vê. «Logo» é o futuro. Talvez fizesse mais sentido chamar-lhe um «estilo pessoal». Mas os peritos são os peritos, estudaram, meditaram, concluíram. Por mim , gosto de mergulhar na dúvida  de  leituras independentes e as  fontes que prefiro são   estas lentes de ler.  Hoje li: «Mas se há um progresso na arte de escrever, ele deriva de um solitário voto de castidade talvez. » Agustina, Jóia de Família.
 

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