novembro 28, 2013

parabéns , jorge listopad!



da minha memória nunca poderia dizer que já não é o que era, na verdade nunca foi. nela guardo aromas de café, de laranja, da luz velada de uma mansarda, em noite de amor, sim. do toque em pele de bebé, a pele virgem recém - nascida. também o cheiro da morte, da despedida.

Houve apenas uma professora que conseguiu que a minha memória funcionasse sem o apelo à literatura- foi a que me mandou saber as cotiledóneas, as inflorescências, os eixos das pedras. Um milagre, pensei.
Para o resto, só retinha na memória o que a ficção me contava. Estudava por associações registadas em quadros que inventava de modo a conseguir ligar acontecimentos históricos, filosofias, geografias. O meu mundo daqueles tempos, tão curto, tornado infinito pela leitura. Não podia resultar daqui um ser desses muito cultos, cheios de datas certas, para nomes certos de citações também certas. Apenas uma base não identificável, para a construção dos dias.

Acho que me lembrei disto ao ouvir há tempos o Luís Miguel Cintra – sobre a construção ou desconstrução, dele. O que todos fazemos de acordo com o que somos, sentimos, lemos e relemos, olhamos ou não.
E por estas associações flamejantes vou caminhando e sei que está a passar por estes dias o aniversário de Jorge Listopad, para quem tinha apontado um postal de rosas vermelhas e champagne francês – o professor foi quem me ensinou o que mais valorizo na vida, quando me atacou de sorriso irónico, inquisidor, se não seria um pouco tarde para ter resolvido estudar teatro. E eu a desacreditar – Será? Será demasiado tarde para mordiscar finalmente o fruto proibido?
 Tão tarde, teria eu uns doces vinte e cinco aninhos, e a meter-me pelo teatro e a ter de ir ganhando a vida real que ninguém me dava sustento. Pois, querido professor, foi o que aprendi naquele dia e me ficou – que nunca é tarde. Obrigada, professor , um grande abraço de parabéns, espero não chegar cedo nem tarde.

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