fevereiro 09, 2015

Almeida e Sousa



Está um frio pérfido. Mas este computador arrasta-se numa lentidão de quarenta e dois graus à sombra. O que me dava gozo, era atirar todos os bibelots da estante abaixo, que eles atacam os livros como cortinas civilizadas do poder. Ir a todas as lombadas, abri-los e misturar tudo em saladas russas não enlatadas. Há palavras que merecem estar sempre à mão, páginas sempre abertas para o mundo.

Como estas:

« (...) então disse-lhe:
-lendo-te submerso e brutalmente lobotomizado pelo pós-guerra, sinto-me numa cidade de eléctricos lentos e cortes de luz onde reinam, sem competência, burocratas de pistola à cinta e mediocridades perversamente intelectuais que só chegam a alcançar alguma relevância porque a primeira fila da inteligência foi eliminada.
e desta vez, frente a frente, decidimos disparar os nossos revólveres e adoptámos atitudes receptivas e excitantes, (…)»

In, Manuel de Almeida e Sousa, Cantos do Corvo Negro

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