agosto 31, 2014

Diário de Bordo, Ana Marecos






 Já que os jornais estão uma desgraça e que esta fuga para junto dos poetas se começa a revelar obsessiva, decido-me por uma evasão muito viajante. Trata-se do Diário de Bordo de Ana Marecos - um diário em que a autora, a par de algumas viagens ao seu próprio passado, compõe um balanço da sua vida profissional e não só. Impressões de infância, os amores, a vida familiar. 


 Admiro as pessoas que se dedicam àquilo que fazem profissionalmente, sobretudo aqueles a quem está reservado o papel de “lidar com o público”, tarefa muitas vezes árdua que não se compadece de más disposições ou confusões de vida que tanta vez atrapalham um bom desempenho.

Imagine-se a correria de uma hospedeira de bordo, cuja obrigação é manter os passageiros felizes enquanto pensa na família que terá deixado lá em casa. Uma vida alucinante. Mas AM não perde o gosto por chegar e partir, isso não a cansa e tem ainda disposição para ouvir e registar o português híbrido de D. Vilma:

  «O mê Toino deu-me um telefone destes que tem pernas e posso falar com ele sempre que quero, mas nã gosto de disturbar» «O mê Toino Michael veio antes para arranjar cá as coisas, ele trabalha nos traques, aqueles carros grandes que carrega as marcadorias» «Quando ele era babe vínhamos a Portugal ver os avós, ele adorava andar nos aviõs, lá em cima, cruz credo aquilo anda tã alto. Pedia-le juice pra ele ficar quite.» «E no iróporti, assim que largávamos a exit punha-le a mão nas ventas senõ ninguém le fazia um stop.» 

Realismo linguístico?


No final, um tom de despedida- que é sempre uma espécie de morte - «o último voo, nem sempre dizemos hasta luego». Embora «o grande truque da vida seja nunca dizermos Adeus».


Primeiro estranha-se, depois entranha-se, é o que dizem – este hábito de andar de um lado para o outro, de querer pisar toda a terra.

Para quem gosta deste tipo de viagens, um boa fonte de inspiração, este Diário de Bordo.

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